Sintomas de conteúdo religioso em pacientes psiquiátricos

Vozes do além: uma análise psicopatológica da eclosão de experiências anômalas em médiuns espíritas

As experiências anômalas (EA) são experiências psíquicas inusitadas, não necessariamente patológicas, que ocorrem em contextos espirituais e religiosos. Esse estudo explora o surgimento de EA, suas características e repercussões psíquicas, com base na análise qualitativa do relato autobiográfico de médiuns espíritas. Dez sujeitos foram selecionados e submetidos a um questionário sociodemográfico e a entrevista semiestruturada. As EA surgiram, majoritariamente, na infância e na adolescência dos entrevistados, sendo vagas e associadas a medo, ansiedade e falta de controle, muitas vezes, remetendo à “loucura”. Experiências alucinatórias de natureza visual, auditiva e tátil foram descritas de forma marcantemente heterogênea, indicando a importância dos componentes subjetivos e imaginativos, bem como sugerindo que a manifestação de vivências de natureza psicótica ocorra dentro de um campo dimensional complexo.

Religiosity, depression, and quality of life in bipolar disorder: a two-year prospective study

OBJECTIVE

Few quantitative studies have examined the effect of religious involvement on the course of bipolar disorder (BD). We investigated the effects of religious activity and coping behaviors on the course of depression, mania, and quality of life (QoL) in patients with BD.

METHODS

Two-year longitudinal study of 168 outpatients with BD. Linear regression was used to examine associations between religious predictors and outcome variables (manic symptoms, depression, QoL), controlling for sociodemographic variables.

RESULTS

Among the 158 patients reassessed after 2 years, positive religious coping at T1 predicted better QoL across all four domains: physical (β = 10.2, 95%CI 4.2 to 16.1), mental (β = 13.4, 95%CI 7.1 to 19.7), social (β = 10.5, 95%CI 3.6 to 17.33), and environmental (β = 11.1, 95%CI 6.2 to 16.1) at T2. Negative religious coping at T1 predicted worse mental (β = -28.1, 95%CI -52.06 to -4.2) and environmental (β = -20.4, 95%CI -39.3 to -1.6) QoL. Intrinsic religiosity at T1 predicted better environmental QoL (β = 9.56, 95%CI 2.76 to 16.36) at T2. Negative religious coping at T1 predicted manic symptoms (β = 4.1) at T2.

CONCLUSION

Religiosity/spirituality (R/S) may influence the QoL of patients with BD over time, even among euthymic patients. Targeting R/S (especially positive and negative religious coping) in psychosocial interventions may enhance the quality of recovery in patients with BD.

Religiosity, mood symptoms, and quality of life in bipolar disorder

OBJECTIVES

The aim of the present study was to investigate the relationship between religiosity and mood, quality of life, number of hospitalizations, and number of severe suicide attempts among bipolar disorder patients.

METHODS

In a cross-sectional study of bipolar disorder outpatients (N = 168), we assessed symptoms of mania [Young Mania Rating Scale (YMRS)], depression [Montgomery-Åsberg Depression Rating Scale (MADRS)], religiosity (Duke Religious Index), religious coping (Brief RCOPE), and quality of life [World Health Organization Quality of Life-Brief Version (WHOQOL-BREF)]. Sociodemographic data, number of suicide attempts, and number of hospitalizations were obtained through an interview with the individual and analysis of the patient's medical records. Logistical and linear regressions of the association between the religious indicators and clinical variables were conducted, controlling for sociodemographic variables.

RESULTS

A total of 148 (88.1%) individuals reported some type of religious affiliation. Intrinsic religiosity [odds ratio (OR) = 0.19, 95% confidence interval (CI): 0.06-0.57, p = 0.003] and positive religious coping strategies (OR = 0.25, CI: 0.09-0.71, p = 0.01) were associated with fewer depressive symptoms. All four domains of quality of life were directly and significantly correlated with intrinsic religiosity. Positive religious coping was correlated with higher levels of the psychological (β = 0.216, p = 0.002) and environmental (β = 0.178, p = 0.028) quality-of-life domains. Negative religious coping was associated with lower scores on the psychological domain of quality of life (β = -0.182, p = 0.025).

CONCLUSIONS

Intrinsic religiosity and positive religious coping are strongly associated with fewer depressive symptoms and improved quality of life. Negative religious coping is associated with worse quality of life. Religiosity is a relevant aspect of patients' lives and should be taken into consideration by physicians when assessing and managing bipolar disorder patients. Further longitudinal studies are needed to determine the causality and therapeutic implications of our findings.

Religion, spirituality, and psychosis

This review discusses the relationships between religion, spirituality, and psychosis. Based on the DSM-IV, we comment on the concept of spiritual and religious problems, which, although they may seem to be psychotic episodes, are actually manifestations of nonpathological spiritual and religious experiences. Studies reporting that hallucinations also occur in the nonclinical population and thus are not exclusive to the diagnosed population are presented. Then, other studies pointing to the strong presence of religious content in psychotic patients are also presented. Finally, the criteria that could be used to make a differential diagnosis between healthy spiritual experiences and mental disorders of religious content are discussed. We conclude that the importance of this theme and the lack of quality investigations point to the necessity of further investigation.

Religião e transtornos mentais em pacientes internados em um hospital geral universitário

A fim de determinar a prevalência de transtornos mentais em uma amostra de pacientes de um hospital geral e sua relação com a denominação religiosa e religiosidade, foram investigados 253 pacientes internados no Hospital das Clínicas da Universidade Estadual de Campinas por intermédio de um questionário sócio-demográfico e um instrumento para diagnóstico psiquiátrico (MINI-Plus). A maioria dos pacientes era católica (63,2%; n = 177); seguidos dos evangélicos pentecostais (20,4%; n = 57); dos "sem-religião" (7,5%; n = 21); espíritas (4,3%; n = 12) e protestantes históricos (2,3%; n = 8). Consideraram-se muito religiosos 43,2% (n = 116), religiosos 46,9% (n = 129), pouco religiosos 9,8% (n = 27), não religiosos 1,1% (n = 3). A filiação religiosa evangélica e maior freqüência a cultos relacionaram-se à menor freqüência de problemas com álcool. É possível que a filiação religiosa evangélica exerça uma ação inibidora na ocorrência de transtornos relacionados ao álcool. Indivíduos muito religiosos ou pouco/nada religiosos apresentaram maior prevalência de transtorno bipolar. A dimensão intensidade da religiosidade revelou-se modestamente associada à prevalência geral dos transtornos, especialmente ao transtorno bipolar. É razoável que situações extremas (de muito ou reduzido envolvimento) relacionem-se a tal achado, relacionando tanto a busca exacerbada ou o afastamento da religiosidade com estados mentais alterados.

Bem-estar espiritual e transtornos psiquiátricos menores em estudantes de psicologia: estudo transversal

INTRODUÇÃO: Religiosidade/espiritualidade e saúde mental parecem positivamente associadas. O estudo examina associações entre bem-estar espiritual e distúrbios psiquiátricos menores em estudantes de Psicologia. MÉTODOS: Uma escala de bem-estar espiritual, o Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20) e informações sociodemográficas foram utilizadas na totalidade (n = 351) dos alunos de Psicologia da Universidade Católica de Pelotas (RS), no ano de 2002. Foram comparados os escores atuais com os dos alunos de Direito e Medicina da mesma universidade em 2001 (n = 464). RESULTADOS: 84,6% dos alunos de Psicologia apresentaram espiritualidade negativa, comparados a 68,8% dos acadêmicos de Medicina e 68,5% de Direito (p DISCUSSÃO: Os achados coincidem com a experiência internacional. É preocupante que estudantes de Psicologia se mostrem mais distantes de questões espirituais/religiosas, levando em conta a associação espiritualidade/saúde-enfermidade. CONCLUSÃO: A religiosidade/espiritualidade se mostrou como fator inversamente associado a transtornos psiquiátricos menores em estudantes de Psicologia.